Disfagia e Terapia da Fala
O que faz um terapeuta da fala?
O Terapeuta da Fala é o profissional de saúde responsável pela prevenção, avaliação, tratamento e estudo científico da comunicação humana e perturbações relacionadas. Falamos de todos os processos relacionados com a compreensão e produção da linguagem oral e escrita, e das formas adequadas de comunicação não verbal. Estas perturbações reportam-se à fala e à linguagem, ao funcionamento auditivo, visual, cognitivo, muscular oral, respiratório, vocal e, por último, mas não menos importante, à deglutição.
Também avalia e identifica o funcionamento muscular da deglutição?
Sim, esta é uma das mais importantes competências do Terapeuta da Fala: detectar, avaliar e intervir sobre a função de deglutição, ao nível das estruturas, dos músculos e do seu funcionamento.
Um dos distúrbios da deglutição é a disfagia. É um distúrbio grave? Porquê?
Sim, a disfagia é uma das perturbações da deglutição, caracterizada por uma dificuldade em mastigar e preparar o bolo alimentar, controlá-lo, transferi-lo da boca para a faringe, proteger as vias aéreas na deglutição e/ou transferir o bolo para o esófago. Estas alterações podem envolver o(s) estadio(s) oral, faríngeo ou esofágico. A gravidade depende da fase, das estruturas envolvidas e do tipo de etiologia. Na generalidade, se uma pessoa tem alterações nesta função, por mais pequena que seja, tem afectada uma das funcionalidades necessárias para a sua sobrevivência, tendo dificuldade em manter o nível nutricional e de hidratação pelo que se pode considerar uma perturbação muito grave.
Há sinais de alerta a que as pessoas devem estar atentas ou formas de se prevenir a disfagia?
Os sinais e sintomas de alerta são variados: hesitação ou incapacidade de engolir, retenção de alimento na orofaringe, regurgitação nasal, refluxo, deglutição múltipla, limpeza frequente da garganta, voz molhada após a deglutição, tosse, necessidade de limpar a garganta após a deglutição, perda de peso, episódios frequentes de infecções respiratórias, engasgos, perda de sensibilidade oral, perda de saliva, entre outros. A prevenção passa também pela atenção aos estados clínicos que originam o quadro de disfagia. Após o diagnóstico devemos minimizar as suas consequências e acautelar o aparecimento contínuo de sinais e sintomas através de manobras específicas de compensação e estimulação da deglutição, assim como promover uma alteração na dieta alimentar.
A disfagia é mais comum em algum grupo de pessoas?
A disfagia pela degeneração natural das estruturas neurofisiológicas aumenta com o avanço da idade, estando também associada à toma de determinados medicamentos e a alguma desatenção. Contudo, é mais frequente em pessoas com lesões neurológicas e doenças degenerativas. Há que ter em conta que o envelhecimento é um processo de degradação progressiva comum a todos os seres vivos. Mesmo no envelhecimento saudável, caracterizado por mudanças graduais e adaptativas, verifica-se uma diminuição de habilidades e perda no controle neuromuscular e perceptivo. Se pensarmos que o aumento da esperança média de vida é uma realidade, conseguimos imaginar que este processo de envelhecimento é cada vez mais comum. Existem assim maiores exigências solicitadas à sociedade, responsável pela sua população, e com a incumbência de responder activamente perante este processo.
É possível tratar-se a disfagia?
O tratamento depende do grau de lesão e da sua etiologia, da mesma forma que são também diferentes os resultados esperados. Na maioria dos casos consegue-se diminuir os sintomas e tornar mais efectiva a deglutição, mesmo quando se verifica uma contínua necessidade da utilização de determinadas técnicas.
Que tipo de intervenção e procedimentos pode o terapeuta da fala ter e aplicar na pessoa com disfagia para haver melhoras?
As metodologias de intervenção passam essencialmente pela mudança de comportamentos, sendo utilizadas estratégias compensatórias, técnicas de estimulação, manobras de deglutição, técnicas de posicionamento, exercícios de fortalecimento; pode ainda recorrer-se a um conjunto diferenciado de ajudas técnicas.
O acompanhamento pelo terapeuta da fala é apenas à pessoa com disfagia ou também à sua família ou cuidador?
O acompanhamento não se resume à pessoa com disfagia, deve ser efectuado a todos os envolvidos, através de orientações aos familiares, cuidadores, e a todos os que se sintam parte integrante do processo. Algumas pessoas não têm capacidade para aplicar as estratégias e dependem da família / cuidadores para que as mesmas sejam realizadas. Se o acompanhamento indirecto não for realizado o trabalho está, à partida, condicionado.
Para se conseguir resultados positivos no tratamento deste distúrbio, existe um trabalho multidisciplinar, isto é, há intervenção de vários profissionais de saúde em todo o processo?
O treino de alimentação é efectuado pelo Terapeuta da Fala, contudo outros profissionais são fundamentais no contributo para as melhorias, sendo indispensável salientar os seguintes: Nutricionista, Dietista, Gastrenterologista e Otorrinolaringologista. As alterações da deglutição têm agrupado profissionais de diferentes áreas, quer em estudos científicos quer na prática clínica, visando a preocupação da salvaguarda das funções essenciais à Qualidade de Vida.
Podem decorrer da disfagia problemas de desnutrição? Porquê?
Sim, devido à impossibilidade de ingestão de alimentos de diferentes texturas / consistências, ou se a pessoa não se alimenta convenientemente por questões sociais; quanto a este ponto poderei dar como exemplo o indivíduo que não consegue fazer a retenção do alimento na boca, tendo a percepção que isso incomoda os outros, induzindo o isolamento social. E urge salientar esta situação pois somos um povo que socialmente se reúne com frequência à volta da mesa, valorizando e prolongando esses momentos.
Nestes casos, deve recorrer-se a suplementos nutricionais?
Se o indivíduo não se alimenta convenientemente é essencial complementar a sua alimentação com os suplementos necessários para suprir os nutrientes em falta e equilibrar o seu organismo. Assim poderemos prevenir algumas consequências que vão desde a desnutrição, aos problemas respiratórios, e em alguns casos à morte. Não quero deixar de referir a importância, por vezes descurada, dos problemas psicossociais que conduzem à depressão, ansiedade e isolamento.