Desenvolvimento da Linguagem
Desde as primeiras semanas de vida, que os bebés nascem com muitos “truques” para comunicar, dado ser algo inato ao ser humano. Desde os movimentos dos lábios, à agitação de todo o seu corpo, não é possível ignorar a sua capacidade de
comunicação.
Fazem-no, porque estão “programados” para aprender a linguagem e responder às vozes humanas. Desde a nascença que o bebé necessita e quer aprender a linguagem. Primeiro, surge aquilo que denominamos de período pré-linguístico, em que o bebé comunica através de produções sonoras como, por exemplo, o choro, o riso, o palreio e a lalação. Nesta fase, devemos também salientar a sua reacção aos sons, se este identifica a fonte sonora direccionando o seu olhar para ela.
A descoberta da comunicação
O choro é a forma mais eficaz de comunicação que o bebé dispõe contudo, por volta dos 2 meses, começa a emitir outros sons vocálicos que conciliados com os sorrisos e as gargalhadas formam o palreio. Quando o bebé palra, os adultos respondem com elogios ou frases carinhosas, criando um processo bidireccional, de estímulo-resposta
que se assemelha à conversação. Os bebés aprendem regras básicas da linguagem muito antes de serem capazes de falar.
A partir dos 7 meses, a sua capacidade de compreensão encontra-se num estado de evolução, que desperta a sua atenção para os sons das conversas à sua volta, sentindo interesse pelas conversas dos adultos. Também, já consegue reconhecer o seu nome e toma atenção quando falar directamente com ele. No seguimento desta etapa, surge a lalação que consiste na repetição de sílabas, por exemplo, os deliciosos “gu-gu”/“da-da” que encantam os mais velhos, podendo manter-se até aos 9/10 meses, e também a fase de “imitação”, em que os bebés copiam não só os
gestos, mas também os sons.
Por volta dos 10 a 11 meses, existe uma nova evolução (pode acontecer mais tarde), o bebé começa a juntar os vários sons, de forma a que pareçam palavras e frases: “ohh – ahh – mama”. Nesta fase, o desenvolvimento da linguagem dá um “salto”, por consequência dos estímulos que os bebés recebem para produzir “fala” como a dos seus cuidadores.
As primeiras palavras
Pouco depois dos 12 meses, surge a primeira palavra mas lembre-se: cada criança tem o seu ritmo de desenvolvimento! Geralmente são monossílabos ou repetições de silabas, por exemplo, “ó-ó” para cama/dormir ou “mã” para mãe, correspondendo sempre a pessoas ou objectos significativos para o bebé. No entanto, uma vez dita a primeira palavra, verá como o seu vocabulário se multiplica rapidamente, à medida que começa a experimentar novas palavras e a juntar novos sons. No princípio, as palavras novas chegam a conta-gotas (um a dois meses), mas depressa começará a ouvir novas palavras com um intervalo de poucos dias.
Aos 18 meses, o vocabulário do bebé pode incluir entre quarenta a cinquenta palavras, ou até mais, conseguindo compreender cerca de duzentas palavras. Por esta altura, já é capaz de compreender frases e ordens simples, iniciando a produção de holófrases (p.e.: diz “ua” para transmitir a ideia de “quero ir á rua”) e é capaz de nomear objectos familiares. Por volta dos 2 anos, usará cerca de duzentas a trezentas palavras, em que 50% dos sons são claros e inteligíveis, e compreenderá cerca de mil palavras. Este desenvolvimento da linguagem da nascença até ao momento, permite ao bebé compreender ordens mais complexas, dizer o seu nome e construir frases com duas a três palavras.
“Complicar a fala”
Com os 3 anos, surgem capacidades gramaticais, como por exemplo, o uso de plurais e preposições, assim como a aplicação de questões no seu discurso (“idade dos porquês”). O vocabulário da criança é variado, permitindo-lhe compreender frases simples. Porém, na sua expressão as frases ainda são telegráficas respeitando a estrutura básica (Sujeito-Verbo-Objecto), por exemplo (“João quer leite”). É também nesta faixa etária, que surge a manipulação dos sons da língua através de jogos com rimas e de segmentação silábica, que será a base para a aquisição da capacidade de leitura, posteriormente.
Aos 4 anos a criança apresenta um discurso, gramaticalmente, mais próximo do dos adultos. Já é capaz de relatar acontecimentos passados ou histórias ouvidas, através de frases gramaticalmente completas. Ao nível da produção dos sons da sua língua
materna, a partir dos 5 anos a criança já deverá ser capaz de dominar a maioria dos sons, extinguindo-se as trocas e/ou omissões destes nas palavras.
Com o desenvolvimento cognitivo, a criança continuará a aumentar a complexidade e variabilidade do seu vocabulário, criando as bases necessárias para as competências que irá adquirir na escola. Daí a importância de um bom desenvolvimento da linguagem, para que a aprendizagem da leitura e escrita não sejam comprometidas, por lacunas a esse nível.
Pedir ajuda profissional
Como podemos então saber que o desenvolvimento da linguagem está a decorrer “normalmente”? Quando devemos consultar o Terapeuta da Fala? As idades até agora mencionadas, devem ser tidas como referências e não como algo rígido e estanque
para todas as crianças, cada caso é um caso. Em cada faixa etária existem pontos que poderão ser sinais de alerta para os cuidadores:
- 6 meses: observe se a criança reage aos sons e mantém contacto visual, como forma de comunicação (olha para si quando requer a sua atenção);
- 12 meses: deixou de produzir som, não reage ao seu nome e/ou aos sons familiares;
- 18 meses: não produz palavras familiares, mostra sinais de regressão ou deixou de falar;
- 2 anos: não compreende ordens simples, apresenta vocabulário reduzido (4 a 6 palavras) e tem um discurso pouco perceptível;
- 3 anos: o discurso mantém-se pouco inteligível, usa poucos verbos e não aplica adjectivos/artigos, não utiliza plural e não forma frases simples (Beatriz anda carro).
- 4 anos: usa frases curtas e mal construídas, não consegue narrar eventos simples e recentes e tem dificuldades em iniciar frases ou repetir sílabas/palavras.
Bibliografia:
Castro, S. & Gomes, I. (2000). Dificuldades de aprendizagem da língua materna. Lisboa, Universidade Aberta
Sim.Sim, I., Silva, A. & Nunes, C. (2008). Linguagem e Comunicação no Jardim-de-Infância. Lisboa, Ministério da educação.
Sim-Sim, I. (1998). Desenvolvimento da Linguagem. Lisboa, Universidade Aberta.
Sua Kay, E. (2011). No princípio era o verbo – Reflexão sobre o desenvolvimento da comunicação e linguagem. Revista ComunicAtiva, nº2/Junho-Setembro, pág. 9-10.